A concorrência penou anos - mas finalmente conseguiu. A Intel desperta do sonho da bolha para o mundo hostil – começando por despedir 10.500 trabalhadores. Bem vinda ao século XXI.
A Intel é a Intel. A um leigo a frase soa a pouco. Já a frase "a Microsoft é a Microsoft" será de entendimento pacífico. Ora, a Intel é uma espécie de cara-metade da Microsoft, juntas formaram o duopólio de facto que nos anos 90 fez o desenvolvimento do mercado de computadores domésticos como o conhecemos hoje: caro e pesado, com toda a gente obrigada a comprar uma caixa (de ouro) completa com 64 ferramentas (de platina) mesmo que precise usar apenas uma chave de fendas vulgar.
A Intel tem low-profile e ninguém sabe o nome do seu CEO, ao contrário da Microsoft e os seus mediáticos (Bill Gates) e espampanantes (Steve Ballmer) ex-presidente e presidente. Sempre foi assim, excepto durante um punhado de anos em que Andy Groove, o carismático e paranóico CEO da Intel, aparecia nos jornais a dar o peito às balas respondendo pelo colossal erro do lançamento do Pentium defeituoso. (Groove salvou in extremis a imagem da empresa.)
Porém, enquanto a Microsoft continua (ainda) sentada em quotas acima dos 90 por cento nos sistemas operativos e quotas de leão nos mercados lucrativos, a Intel tem vindo a perder gradualmente o domínio. E o pior nem é a quota de mercado, a caminho dos 50 por cento. A Intel está também a deixar escoar o que tanto trabalho dera a construir ao longo dos gloriosos anos do desbravar do (então) "far west" informático: a reputação de tremenda líder tecnológica. Personalidades como Gordon Moore, co-fundador da Intel e autor da lei com o seu nome que foi o paradigma da evolução dos microprocessadores durante décadas, e Andrew Groove, construíram essa reputação dourada que a Intel tem vindo paulatinamente a desbaratar.
Nos sistemas capitalistas o declínio deve-se tipicamente à substituição dos fundadores, homens de visão, capitalistas de corpo e alma, pelas linhas de amanuenses educados para gerir recursos. Este management obedece à lógica toda-poderosa do mercado – os accionistas guiados pelas mais-valias – e, um pouco como os políticos democráticos, está condenado a operar segundo lógicas de curto prazo. Talvez não seja totalmente justo dizer isto da Intel: as necessidades do mercado da informática mudaram muito desde a década de 90 e passou-se da escassez de capacidade de processamento para excesso de capacidade: mais de 95 por cento dos ciclos de processamento disponíveis no mundo são pura e simplesmente desperdiçados.
O gigante não soube visar o novo mercado. Deixou-se apanhar pelos pigmeus, mais lestos na corrida aos mercados emergentes da informática móvel (portáteis, laptops, PDAs, telemóveis, etc). Este mundo hostil obriga a Intel a acordar bruscamente de um sonho que durou os últimos cinco anos. As medidas são impiedosas: pouco mais de dez por cento da força trabalhadora é despedida nos próximos seis meses. As margens de lucro foram descendo tão depressa como a quota de mercado. Só bem desperta poderá lutar contra a sua principal concorrente, a AMD, e evitar que esta se torne líder do mercado – e a marca de maior confiança.
Paulo Querido www.expresso.pt
A Intel é a Intel. A um leigo a frase soa a pouco. Já a frase "a Microsoft é a Microsoft" será de entendimento pacífico. Ora, a Intel é uma espécie de cara-metade da Microsoft, juntas formaram o duopólio de facto que nos anos 90 fez o desenvolvimento do mercado de computadores domésticos como o conhecemos hoje: caro e pesado, com toda a gente obrigada a comprar uma caixa (de ouro) completa com 64 ferramentas (de platina) mesmo que precise usar apenas uma chave de fendas vulgar.
A Intel tem low-profile e ninguém sabe o nome do seu CEO, ao contrário da Microsoft e os seus mediáticos (Bill Gates) e espampanantes (Steve Ballmer) ex-presidente e presidente. Sempre foi assim, excepto durante um punhado de anos em que Andy Groove, o carismático e paranóico CEO da Intel, aparecia nos jornais a dar o peito às balas respondendo pelo colossal erro do lançamento do Pentium defeituoso. (Groove salvou in extremis a imagem da empresa.)
Porém, enquanto a Microsoft continua (ainda) sentada em quotas acima dos 90 por cento nos sistemas operativos e quotas de leão nos mercados lucrativos, a Intel tem vindo a perder gradualmente o domínio. E o pior nem é a quota de mercado, a caminho dos 50 por cento. A Intel está também a deixar escoar o que tanto trabalho dera a construir ao longo dos gloriosos anos do desbravar do (então) "far west" informático: a reputação de tremenda líder tecnológica. Personalidades como Gordon Moore, co-fundador da Intel e autor da lei com o seu nome que foi o paradigma da evolução dos microprocessadores durante décadas, e Andrew Groove, construíram essa reputação dourada que a Intel tem vindo paulatinamente a desbaratar.
Nos sistemas capitalistas o declínio deve-se tipicamente à substituição dos fundadores, homens de visão, capitalistas de corpo e alma, pelas linhas de amanuenses educados para gerir recursos. Este management obedece à lógica toda-poderosa do mercado – os accionistas guiados pelas mais-valias – e, um pouco como os políticos democráticos, está condenado a operar segundo lógicas de curto prazo. Talvez não seja totalmente justo dizer isto da Intel: as necessidades do mercado da informática mudaram muito desde a década de 90 e passou-se da escassez de capacidade de processamento para excesso de capacidade: mais de 95 por cento dos ciclos de processamento disponíveis no mundo são pura e simplesmente desperdiçados.
O gigante não soube visar o novo mercado. Deixou-se apanhar pelos pigmeus, mais lestos na corrida aos mercados emergentes da informática móvel (portáteis, laptops, PDAs, telemóveis, etc). Este mundo hostil obriga a Intel a acordar bruscamente de um sonho que durou os últimos cinco anos. As medidas são impiedosas: pouco mais de dez por cento da força trabalhadora é despedida nos próximos seis meses. As margens de lucro foram descendo tão depressa como a quota de mercado. Só bem desperta poderá lutar contra a sua principal concorrente, a AMD, e evitar que esta se torne líder do mercado – e a marca de maior confiança.
Paulo Querido www.expresso.pt